quarta-feira, 4 de julho de 2012

Construindo o personagem João da Costa

Por Gabriel Varela Lopes
Estudante de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco

Capa do livro A Cara da Mídia
           
          O texto de Carlos Figueiredo e Dacier de Barros e Silva compõe o livro A Cara da Mídia da Coleção Estudos da Cultura – Série Intersecções da Editora Massangana. Na sua introdução, o texto ressalta a importância de diferentes plataformas para construção de candidaturas e projetos partidários de políticos, já que o palanque deixou de ser o único meio de contato do político com o povo. Os lugares físicos seriam, inclusive, usados para gerar notícia e mídia espontânea, moldando a imagem dos políticos. O uso dos meios de comunicação seria de alta importância, pois possui grande alcance, prestígio e capacidade de formação dos personagens políticos.
            O estudo apresentado no texto analisa as notícias liberadas pelos jornais Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio entre novembro de 2004 e junho de 2006 sobre os pré-candidatos a Governador de Pernambuco: Eduardo Campos (PSDB), Mendonça Filho (PFL, atual DEM) e Humberto Costa (PT). Os autores delimitaram a análise por esses três candidatos por suas candidaturas “terem vingado e de terem sido os três primeiros lugares no pleito de 2006” (FIGUEIREDO; BARROS E SILVA, 2010, p. 10).
            Fazendo uma aproximação histórica, os autores ressaltam que a técnica de construção permanente da imagem dos políticos não surgiu com os meios de comunicação, mas sim com o aparecimento da política mais racional, gerida como uma empresa. Para isso, os políticos contemporâneos contam com uma verdadeira equipe para que os políticos alcancem o público e sedimentem uma imagem “desgarrada do real, porém fundante do pretenso real.” (FIGUEIREDO; BARROS E SILVA, 2010, p. 11).
            Através de uma abordagem teórica, os autores apontam algumas teorias que identificam o jornal como construtor da realidade e por isso, de real importância para os candidatos que desejam manter suas imagens dignas de serem escolhidas pela população, na eleição. Os autores também comentam que o estereótipo, apesar de ter no senso comum um sentido negativo, pode servir como simplificadores da realidade. Usados nesse sentido, os estereótipos exercem uma grande importância no campo político, pois diminuem a complexidade do mundo, fazendo com que o indivíduo analise-o acriticamente.
          Os autores, então, analisam a campanha dos pré-candidatos sob as seguintes legendas: Mendonça Filho – o vice que governa, Humberto Costa – o ex-ministro e Eduardo Campos – o herdeiro de Arraes. Mendonça Filho foi midiatizado com um forte laço entre ele e Jarbas Vasconcelos, governador na época. O candidato se aproveitou de sua posição no governo como vice-governador e foi a grande número de eventos junto a Jarbas. Humberto Costa tinha como principal atrativo o fato de ser Ministro da Saúde, mas sua imagem foi muito marcada pela pouca certeza na sua pré-candidatura com João Paulo, período em que Costa também foi acusado de participação na Máfia dos Vampiros. Eduardo Campos muito habilmente ligou sua imagem pública a de seu avô, Miguel Arraes;

“uma tática para agregar-se ao prestígio do ex-governador ao mesmo tempo em que se apresentava com uma nova alternativa para Pernambuco, expressa no slogan ‘A Esperança se Renova’, uma referência à propaganda de Miguel Arraes na campanha vitoriosa de 1986 que tinha como lema ‘A Esperança está de volta’.” (FIGUEIREDO; BARROS E SILVA, 2010, p. 23).

            No intuito de fomentar discussão e enriquecer a pesquisa feita no artigo A construção da imagem pública: os dilemas nos meios de comunicação do livro A Cara da Mídia, o texto analisa a campanha de candidatura de João da Costa para prefeito da cidade do Recife no ano de 2008. Seguindo a tese de que sua candidatura se apoiou nos altos índices de popularidade de João Paulo, seu “padrinho político” e prefeito da cidade, na época; o texto tenciona mostrar como a imagem pública de um político pode se fundir a outra, a ponto de ser um fator de alta importância numa eleição.

Campanha impressa da candidatura de João da Costa

            João Paulo, que já se encontrava no seu segundo mandato no governo da cidade do Recife, teria que, por obrigação, sair do cargo de prefeito. Como candidato à eleição, o antigo prefeito decidiu apoiar (mesmo contra a decisão do partido) a candidatura do seu “afilhado político”, João da Costa, que trabalhou desde o primeiro mandato no governo de João Paulo como Secretário do Orçamento Participativo.

Segundo guia eleitoral da Frente do Recife

            O slogan da campanha era “João é João”, uma clara evidência da tentativa de persuadir o eleitor fazendo-o crer que a administração seria idêntica à de João Paulo. Houve, inclusive, um episódio ocorrido em 22 de Agosto de 2008 em que o juiz Virgínio Carneiro Leão proibiu o uso de outro slogan – “Compromisso verdadeiro em cuidar das pessoas” – pelo candidato, pois, segundo o juiz, remeteria ao slogan da prefeitura – “A grande obra é cuidar das pessoas” –, gerida por João Paulo.
De acordo com o gráfico (Fig. 1), pode-se perceber a baixa intenção de voto do candidato João da Costa em Julho de 2008, em relação a seus concorrentes, como Mendonça Filho. A pesquisa foi feita antes de o período eleitoral ser iniciado e evidencia o pouco conhecimento de sua imagem pública pelos eleitores.

Assim que a propaganda política foi se intensificando através dos meses, o personagem João da Costa consolidou sua imagem vinculada a do prefeito João Paulo e as intenções de voto a ele foram aumentando tanto que de Julho a Agosto, o número quase dobrou. Após certo período de tempo, sua imagem passou a ser tão associada à de João Paulo que uma leve queda na avaliação de seu governo foi suficiente para a sua intenção de voto cair no mês de Setembro. Mas assim que a avaliação aumenta no mês seguinte, as intenções voltam a subir.
A imagem pública de um político é formada pela mídia para que o personagem se torne menos complexo e o público identifique-o por determinados aspectos. A equipe de marketing que se responsabilizou pela campanha de candidatura de João da Costa apropriou-se deste recurso e trabalhou a imagem de seu candidato com a do antigo prefeito, João Paulo. Pelos altos índices de aprovação do governo antecessor, a campanha se beneficiou e pode-se concluir que popularidade de um governo influencia sim o resultado nas urnas, pois modifica a percepção e a memória discursiva do eleitor. No entanto, ela não é a principal variável e nem é suficiente para explicar determinado evento eleitoral.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Muito Além do Jardim

Nos anos trinta, foi lançado nos Estados Unidos um modelo de teoria da comunicação batizado de Teoria Hipodérmica, chamado também deTeoria da Bala Mágica. Consistia na idéia de que uma afirmação lançada pela mídia seria imediatamente aceita e espalhada entre todos os receptores, em igual proporção, ratificando, nesse sentido, seu poder de manipulação. E justamente, ainda que guardadas suas devidas proporções, o filme Muito Além do Jardim, aborda, entre outros assuntos, a respectiva temática citada. Dirigido pelo diretor americano Hal Ashby, o longa conta a história de Chance Gardner, um homem ingênuo que passou toda a sua vida longe da sociedade, trabalhando como jardineiro em uma casa, onde seu único contato com o mundo é mantido através da tela de uma televisão. Mas chega o dia em que seu patrão morre e Chance se vê obrigado a sair da casa. Leva apenas suas roupas e um controle remoto. Isso mesmo: um controle remoto, o responsável por acionar-lhe o mundo exterior. Confuso e sem identidade, depara-se com uma nova realidade. Mas um incidente mudará por completo a sua história: distraído, é atropelado na rua por um automóvel, pertencente à Eve, esposa de um magnata da cidade chamado Benjamin Rand. Chance é levado para a mansão de Eve com o intuito de receber cuidados médicos. A partir daí, ele começa a cativar as pessoas em sua volta, inclusive o magnata e sua esposa. Na verdade, a experiência social mais profunda vivida por Chance, até o momento da morte de seu patrão, havia sido proporcionada, ironicamente, pela televisão. Suas idéias, seu intelecto, tinham como base o que recebera através do aparelho. Encontramos aí uma forte crítica a possível manipulação da sociedade provocada pela mídia. Torna-se difícil - até inevitável, diga-se de passagem - não comparar Muito Além do Jardimcom outro conhecido filme, O Enigma de Kaspar Hauser ( veja crítica ), do diretor alemão Werner Herzog. Apesar de as histórias acontecerem em épocas e contextos sociais diferentes, seus protagonistas apresentam consideráveis semelhanças. Kaspar Hauser viveu boa parte de sua infância e juventude isolado da sociedade, morando em um porão durante quinze anos. Já Chance, como foi dito anteriormente, viveu também a maior parte de sua vida distante fisicamente da sociedade, mantendo contato com o mundo apenas através da televisão. A semelhança entre as histórias é confirmada justamente no momento em que os personagens saem da situação de isolamento e começam a descobrir uma nova realidade, transformando não só suas vidas, mas também a de outras pessoas. Muito Além do Jardim faz não apenas uma importante crítica a manipulação midiática, como também se revela uma excelente parábola moderna sobre a convivência em sociedade.


Por Wanderley Silva