Por Maria Eduarda Tavares e Maria Eduarda Melo
As artes
representam o que se passa na sociedade, as descobertas, o cotidiano, os costumes,
as crenças e os hábitos de um povo ou região. Os artistas deixam transparecer
em suas obras todo o sentimento de uma sociedade e como a linguagem da arte é universal,
esse sentimento pode ser compreendido pelos mais distintos povos e mais
diferentes gerações. Exemplo de tal poder da arte são as obras que ainda vemos
da época dos gregos, persas e romanos. Tem sido assim desde o começo dos
tempos, as esculturas e pinturas, a literatura e a dança demonstravam e
eternizavam a realidade social de uma época e uma região. Devido a esta forte
característica da arte, é possível que os povos e os países sejam reconhecidos
pela sua arte, seja por um tipo de dança específica ou música. Do mesmo modo
ocorre a diferenciação de regiões dentro de um país que, no caso do Brasil, um país muito grande em extensão, possui uma cultura bastante diversificada. Cada
região possui características únicas que podem ser diferenciadas de acordo com
as danças e músicas de cada uma delas. Felipe Trotta escreveu sobre a impossibilidade
de um ritmo só representar um pedaço de uma terra que tem suas peculiaridades
características.
O nordeste
brasileiro teve como representante durante um tempo a música de Luiz Gonzaga, ritmo
que representava a seca, a vida do vaqueiro, do cidadão nordestino que morava
no interior e que não possuía uma convivência com a cidade grande. Gonzaga é considerado até os dias de hoje um símbolo da cultura
nordestina pois assumia a "nordestinidade" e se deixava representar
pela sua sanfona e sua maneira de vesti-se. Apesar disto, Trotta levanta
um questionamento em relação a essa representação. Ele se pergunta se Gonzaga e
sua sanfona são ideais para representar o nordeste, quando só o estado de
Pernambuco possui outras manifestações culturais muito fortes que também o
representam, tais como o frevo e o maguebeat.
A música de Gonzaga era bastante divulgada no sul, trazendo uma imagem não
muito verdadeira com a real situação do nordeste para o resto da população
brasileira. Com o passar do tempo, a realidade do nordeste foi mudando e o
processo de representação do nordeste através da musica também sofreu mudanças.
Luiz Gonzaga |
Nos anos 90, a
música brasileira passou a sofrer muitas influências do pop internacional e
começa a ser dada uma maior importância ao aspecto do entretenimento presente
nas apresentações musicais. Grandes ícones da música internacional como Madona
e Michael Jackson são citados por Trotta como principais artistas a disseminar
esta nova maneira de fazer música. No Brasil, surgem novos estilos musicais que
aparecem para entreter o público nas diversas regiões do país. A música
sertaneja sofre influência da música country americana, o samba é acrescentado
de novos instrumentos fazendo surgir o pagode, e a música baiana é
revolucionada com o axé music. Todos
esses novos ritmos, apesar de muito diferentes entre si, possuem características
bem semelhantes: músicas altamente populares, disseminadas em peso pela mídia
brasileira para todo o país e com o objetivo único de entreter. No nordeste
este processo também ocorreu.
No Ceará surgiram as primeiras bandas do chamado
forró eletrônico que agregavam o caráter do entretenimento, já presente no
Brasil, com o universo dos jovens. As músicas narram assuntos presentes na vida
do público jovem e sempre são apresentadas em grandes palcos com luzes,
dançarinos e com grande apresentação. Trotta aponta o gênero do forró
eletrônico como uma visão alternativa da representação do Nordeste, uma
reinvenção musical da própria região e afirma:
“O Nordeste do Forro Eletrônico se afasta do chapéu de coro e da zabumba para interagir com o baixo elétrico, com os holofotes midiáticos do grande show e com o universo simbólico e imagético das dançarinas do Faustão, por exemplo”.
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