quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Música como Identidade


                                                                                                  Por Maria Eduarda Tavares e Maria Eduarda Melo


As artes representam o que se passa na sociedade, as descobertas, o cotidiano, os costumes, as crenças e os hábitos de um povo ou região. Os artistas deixam transparecer em suas obras todo o sentimento de uma sociedade e como a linguagem da arte é universal, esse sentimento pode ser compreendido pelos mais distintos povos e mais diferentes gerações. Exemplo de tal poder da arte são as obras que ainda vemos da época dos gregos, persas e romanos. Tem sido assim desde o começo dos tempos, as esculturas e pinturas, a literatura e a dança demonstravam e eternizavam a realidade social de uma época e uma região. Devido a esta forte característica da arte, é possível que os povos e os países sejam reconhecidos pela sua arte, seja por um tipo de dança específica ou música. Do mesmo modo ocorre a diferenciação de regiões dentro de um país que, no caso do Brasil, um país muito grande em extensão, possui uma cultura bastante diversificada. Cada região possui características únicas que podem ser diferenciadas de acordo com as danças e músicas de cada uma delas.  Felipe Trotta escreveu sobre a impossibilidade de um ritmo só representar um pedaço de uma terra que tem suas peculiaridades características. 

O nordeste brasileiro teve como representante durante um tempo a música de Luiz Gonzaga, ritmo que representava a seca, a vida do vaqueiro, do cidadão nordestino que morava no interior e que não possuía uma convivência com a cidade grande. Gonzaga é considerado até os dias de hoje um símbolo da cultura nordestina pois assumia a "nordestinidade" e se deixava representar pela sua sanfona e sua maneira de vesti-se. Apesar disto, Trotta levanta um questionamento em relação a essa representação. Ele se pergunta se Gonzaga e sua sanfona são ideais para representar o nordeste, quando só o estado de Pernambuco possui outras manifestações culturais muito fortes que também o representam, tais como o frevo e o maguebeat. A música de Gonzaga era bastante divulgada no sul, trazendo uma imagem não muito verdadeira com a real situação do nordeste para o resto da população brasileira. Com o passar do tempo, a realidade do nordeste foi mudando e o processo de representação do nordeste através da musica também sofreu mudanças.
Luiz Gonzaga


Nos anos 90, a música brasileira passou a sofrer muitas influências do pop internacional e começa a ser dada uma maior importância ao aspecto do entretenimento presente nas apresentações musicais. Grandes ícones da música internacional como Madona e Michael Jackson são citados por Trotta como principais artistas a disseminar esta nova maneira de fazer música. No Brasil, surgem novos estilos musicais que aparecem para entreter o público nas diversas regiões do país. A música sertaneja sofre influência da música country americana, o samba é acrescentado de novos instrumentos fazendo surgir o pagode, e a música baiana é revolucionada com o axé music. Todos esses novos ritmos, apesar de muito diferentes entre si, possuem características bem semelhantes: músicas altamente populares, disseminadas em peso pela mídia brasileira para todo o país e com o objetivo único de entreter. No nordeste este processo também ocorreu. 

No Ceará surgiram as primeiras bandas do chamado forró eletrônico que agregavam o caráter do entretenimento, já presente no Brasil, com o universo dos jovens. As músicas narram assuntos presentes na vida do público jovem e sempre são apresentadas em grandes palcos com luzes, dançarinos e com grande apresentação. Trotta aponta o gênero do forró eletrônico como uma visão alternativa da representação do Nordeste, uma reinvenção musical da própria região e afirma:
  “O Nordeste do Forro Eletrônico se afasta do chapéu de coro e da zabumba para interagir com o baixo elétrico, com os holofotes midiáticos do grande show e com o universo simbólico e imagético das dançarinas do Faustão, por exemplo”.

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