domingo, 15 de julho de 2012

Dimensões culturais para a crise financeira

Por Caroline Melo, Cláudia Ferreira, Igor de Queiroz, 
Robson Gomes e Suzana Mateus.
Discentes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco

Capa do livro A Cultura na Crise
Apresentação
O livro A cultura na crise trata-se de uma reunião de textos de vários pensadores que possuem em comum a abordagem da cultura contemporânea em meio às diversas crises proporcionadas pelo capitalismo e pela globalização da economia.
Um dos textos presentes no livro, o intitulado: Dimensões culturais para a crise financeira”, de Leonardo Brant, nos concede uma boa perspectiva de como as crises dos nossos tempos afetam os valores e princípios sociais, sobretudo a construção subjetiva dos indivíduos.
Tendo por base a crise de 2008, esse texto e também os demais que se encontram no livro explanam os efeitos negativos que o capitalismo contemporâneo, em sua atuação e abrangência, vem proporcionando ao mundo artístico e social.

Crise de 2008, um breve histórico
A principal causa da crise econômica de 2008 foi o desequilíbrio da maior economia do mundo, os Estados Unidos da América. Após a ofensiva terrorista de 11 de setembro, os EUA se envolveram em duas grandes guerras, Afeganistão e Iraque, e começaram a gastar mais do que deveriam. Ao mesmo tempo que o governo americano investia dinheiro na guerra, a economia do país já não ia muito bem – uma das razões é que os Estados Unidos estavam importando mais do que exportando.
Com a ajuda financeira da Inglaterra e da China, os bancos americanos passaram a oferecer mais crédito com baixa taxa de juros. Com isso, aumentou índice de consumo, principalmente na compra de imóveis, que começaram a se valorizar. Entretanto, com a alta dos juros, a procura por imóveis diminuiu e os preços caíram provocando a inadimplência.
Os grandes bancos americanos foram fortemente afetados por essa inadimplência, havendo a necessidade de ajuda financeira do governo. Após muitas críticas e pressão política a respeito desse “auxílio” financeiro, o governo americano decidiu não mais injetar dinheiro nas instituições de crédito do país, o que ocasionou a falência de muitas delas, entre as quais o famoso banco Lehman Brothers.
Porém, a economia mundial baseia-se em relações de interdependência. Com isso, outras economias que mantinham negócios com os EUA sofreram as consequências dessa crise iniciada no grande centro econômico mundial.

Relato: A visão de Brant acerca das crises contemporâneas
“A crise financeira é, antes de qualquer coisa, uma crise ética, de valores e princípios, de convivência e de diálogo (pag.18)”. É a partir desse aspecto que Leonard Brant desenvolve sua teoria acerca da última crise que abateu a economia mundial. Apesar de o capitalismo ter se revelado o grande gerador da pobreza e da má distribuição de renda, segundo Brant, não deixou de ser para os indivíduos, “o paradigma inabalável do desenvolvimento”.
De acordo com o autor, essa crise ética está fundamentada nesse modo de produção vigente, para o qual direcionamos todos os nossos esforços em detrimento do bem estar social, da igualdade e da solidariedade. Para a manutenção do império do capital, o homem, além de consumir de maneira abusiva os recursos da natureza, se empenha em promover os interesses de um número de indivíduos cada vez menor e acaba por se distanciar cada vez mais de sua subjetividade, tendo sua autonomia cerceada.
Nesse sentido, a arte, agora em crise para Brant, assume outro significado, pois, ao invés de traduzir as contradições da alma humana, passa a servir como um instrumento de reprodução do capitalismo a partir do momento em que é consumida na forma de entretenimento. Brant afirma: “de sua condição única e insubstituível de dar forma às utopias, passa a mera reprodutora de um sistema que incapacita para o exercício desse olhar mais agudo, sensível e criativo (pag.19)”.
Por consequência, essa tensão, apontada pelo autor, entre liberdade e participação põe o Estado em crise também, sobretudo em sua relação às políticas adotadas sobre o setor cultural. Se, por um lado, o Estado incentiva a participação dos grandes conglomerados de mídia e entretenimento internacionais em nossa cultura, negligenciando as empresas locais, por outro, eleva essa indústria local reforçando uma relação entre ela e o Estado, como uma forma de evitar o avanço em demasia da indústria cultural internacional, que descaracterizaria a cultura local. Essa relação seria positiva se não constituísse um elo de dependência, uma relação que Brant afirma ser “imbricada”, visto que as políticas culturais não têm avançado no país em relação ao financiamento às artes.
Desse modo, para o autor, o Estado não deveria ter a cultura como apenas entretenimento e lazer, um tema secundário a se discutir, como se vê ocorrer no Brasil, mas, pelo contrário, deveria inseri-la em sua lista de prioridades, em virtude dela ser o elemento capaz de proporcionar mudanças verdadeiras nas relações sociais e políticas e, por conseguinte, na economia: “propõe-se, assim, um novo passo em direção à ética nas relações socioeconômicas, com o entendimento de que a cultura é o ponto de partida para um projeto de nação, para o desenvolvimento social, para as oportunidades econômicas, mercados potentes, empresas inovadoras, brasileiros capazes, competentes e livres (pag.21)”. A cultura consistiria, nesse sentido, no elemento, baseado nos valores humanos, de estímulo à diversidade e, portanto, ativação de uma sociedade plural e participativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário