Por Caroline Melo, Cláudia Ferreira, Igor de Queiroz,
Robson Gomes e Suzana Mateus.
Discentes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco
Capa do livro A Cultura na Crise
Apresentação
O livro A cultura na crise trata-se de uma reunião de textos de vários
pensadores que possuem em comum a abordagem da cultura contemporânea em meio às
diversas crises proporcionadas pelo capitalismo e pela globalização da
economia.
Um dos textos presentes no livro, o
intitulado: “Dimensões culturais para a crise
financeira”, de Leonardo Brant, nos concede uma boa perspectiva de como as crises dos
nossos tempos afetam os valores e princípios sociais, sobretudo a construção
subjetiva dos indivíduos.
Tendo por base a crise de 2008, esse texto e também
os demais que se encontram no livro explanam os efeitos negativos que o
capitalismo contemporâneo, em sua atuação e abrangência, vem proporcionando ao
mundo artístico e social.
Crise de
2008, um breve histórico
A principal causa da crise econômica de
2008 foi o desequilíbrio da maior economia do mundo, os Estados Unidos da
América. Após a ofensiva terrorista de 11 de setembro, os EUA se envolveram em
duas grandes guerras, Afeganistão e Iraque, e começaram a gastar mais do que
deveriam. Ao mesmo tempo que o governo americano investia dinheiro na guerra, a
economia do país já não ia muito bem – uma das razões é que os Estados Unidos
estavam importando mais do que exportando.
Com a ajuda financeira da Inglaterra e
da China, os bancos americanos passaram a oferecer mais crédito com baixa taxa
de juros. Com isso, aumentou índice de consumo, principalmente na compra de
imóveis, que começaram a se valorizar. Entretanto, com a alta dos juros, a
procura por imóveis diminuiu e os preços caíram provocando a inadimplência.
Os grandes bancos americanos foram
fortemente afetados por essa inadimplência, havendo a necessidade de ajuda
financeira do governo. Após muitas críticas e pressão política a respeito desse
“auxílio” financeiro, o governo americano decidiu não mais injetar dinheiro nas
instituições de crédito do país, o que ocasionou a falência de muitas delas,
entre as quais o famoso banco Lehman Brothers.
Porém, a economia mundial baseia-se em
relações de interdependência. Com isso, outras economias que mantinham negócios
com os EUA sofreram as consequências dessa crise iniciada no grande centro
econômico mundial.
Relato:
A visão de Brant acerca das crises contemporâneas
“A crise financeira é, antes de qualquer
coisa, uma crise ética, de valores e
princípios, de convivência e de diálogo (pag.18)”. É a partir desse aspecto que
Leonard Brant desenvolve sua teoria acerca da última crise que abateu a
economia mundial. Apesar de o capitalismo ter se revelado o grande gerador da
pobreza e da má distribuição de renda, segundo Brant, não deixou de ser para os
indivíduos, “o paradigma inabalável do desenvolvimento”.
De acordo com o autor, essa crise ética
está fundamentada nesse modo de produção vigente, para o qual direcionamos
todos os nossos esforços em detrimento do bem estar social, da igualdade e da
solidariedade. Para a manutenção do império do capital, o homem, além de
consumir de maneira abusiva os recursos da natureza, se empenha em promover os
interesses de um número de indivíduos cada vez menor e acaba por se distanciar
cada vez mais de sua subjetividade, tendo sua autonomia cerceada.
Nesse sentido, a arte, agora em crise
para Brant, assume outro significado, pois, ao invés de traduzir as
contradições da alma humana, passa a servir como um instrumento de reprodução
do capitalismo a partir do momento em que é consumida na forma de entretenimento.
Brant afirma: “de sua condição única e insubstituível de dar forma às utopias,
passa a mera reprodutora de um sistema que incapacita para o exercício desse
olhar mais agudo, sensível e criativo (pag.19)”.
Por consequência, essa tensão, apontada pelo
autor, entre liberdade e participação põe o Estado em crise também, sobretudo
em sua relação às políticas adotadas sobre o setor cultural. Se, por um lado, o
Estado incentiva a participação dos grandes conglomerados de mídia e
entretenimento internacionais em nossa cultura, negligenciando as empresas
locais, por outro, eleva essa indústria local reforçando uma relação entre ela
e o Estado, como uma forma de evitar o avanço em demasia da indústria cultural
internacional, que descaracterizaria a cultura local. Essa relação seria
positiva se não constituísse um elo de dependência, uma relação que Brant
afirma ser “imbricada”, visto que as políticas culturais não têm avançado no
país em relação ao financiamento às artes.
Desse modo, para o autor, o Estado não
deveria ter a cultura como apenas
entretenimento e lazer, um tema secundário a se discutir, como se vê ocorrer no
Brasil, mas, pelo contrário, deveria inseri-la em sua lista de prioridades, em
virtude dela ser o elemento capaz de proporcionar mudanças verdadeiras nas
relações sociais e políticas e, por conseguinte, na economia: “propõe-se,
assim, um novo passo em direção à ética nas relações socioeconômicas, com o
entendimento de que a cultura é o ponto de partida para um projeto de nação,
para o desenvolvimento social, para as oportunidades econômicas, mercados
potentes, empresas inovadoras, brasileiros capazes, competentes e livres
(pag.21)”. A cultura consistiria, nesse sentido, no elemento, baseado nos
valores humanos, de estímulo à diversidade e, portanto, ativação de uma
sociedade plural e participativa.
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