Quando foi 68? : Os anseios sociais
em um mundo conturbado
Por Antônio Júlio
Rebelo Neto e Simony César
O
mundo durante o pós-guerra era marcado por incertezas. Havia a corrida
armamentista entre as potências mundiais EUA e URSS, o colapso econômico nos
países do chamado “Eixo”, Alemanha, Japão e Itália, as cidades europeias
destruídas, culturas territoriais alteradas, entre tantos outros eventos
obscuros.
Tudo
“coroado” por uma guerra de ocupação. Onde os combates militares formais apenas
se deram no início e final do conflito, predominando neste intervalo a opressão
dos invasores, com os civis constituindo-se em uma grande massa de oprimidos
fisicamente e mentalmente. Estimam-se em 40 milhões de mortos civis.
De
fato, as pessoas buscavam modelos a seguir, que levassem a uma condição de vida
mais digna e mais humana. Tratados foram criados entre as nações, ligas foram
formadas, países unidos em busca de paz.
Assim,
as guerras legitimaram o objetivo de se alcançar um Estado liberal, que
almejasse a justiça e a democracia.
Realizou-se
em 1954 a Conferência de Genebra, que objetivava restaurar a paz na Indochina e
Coreia, após a derrota francesa no Vietnã. Vale ressaltar que a França recebia
apoio financeiro e militar estadunidense, enquanto soviéticos e chineses
apoiavam os vietnamitas. Assim, temporariamente o Vietnã seria dividido em
norte (socialista) e sul (anticomunista) até a próxima eleição que seria em
1956.
Contudo,
os Estados Unidos não assinaram o acordo de Genebra, invadindo posteriormente o
Vietnã do Sul, impondo um golpe de estado ao governo de Bao Dai, colocando em
seu lugar, Ngo Dinh Diem, comprometido com os norte-americanos.
Diem
implantou uma ditadura militar, proclamou a independência do Vietnã do Sul e
cancelou as eleições previstas pelo Acordo de Genebra, porque havia a convicção
de que ela daria a vitória a Ho Chi Minh, chefe da nação vietnamita do norte.
Isto
demonstrava o nível ético ao qual os Estados Unidos estava disposto a adotar
para conseguir vencer a Guerra Fria contra a URSS e, consequentemente, contra o
comunismo, sistema abominado na América do Norte, mas que ganhava força popular
em países nacionalistas que lutavam por sua independência.
O
conflito no Vietnã foi catastrófico. Mais ainda para os norte americanos, que
viram sua imagem ruir perante o mundo civilizado e pelos próprios cidadãos
estadunidenses. Pois, o conflito foi amplamente divulgado pela mídia, onde
imagens de horrores eram transmitidas pela televisão o que causava repulsa na
população. Além do fato de que com a guerra, eis que surge uma forma de combate
que mais tarde se espalharia pela América: a guerrilha.
Enquanto
o mundo assistia espantado a derrocada norte-americana, na França há
manifestações populares crescentes. Manifestos estudantis, reinvindicações do
proletariado e insurgências civis marcam a sociedade francesa na década de 60.
A
maioria dos insurretos eram adeptos de ideias esquerdistas, comunistas ou
anarquistas. Lutavam para verem mudar os valores pertencentes a uma antiga e
decadente burguesia, cujo resgate de força se deu pelo governo de De Gaulle.
O
operariado na França fazia greves, contestava seus patrões e exigia melhores
condições de trabalho. Armavam “barricadas”, enfrentavam a polícia, cuja força
o governo utilizava nas chamadas “blitz”.
Os
intelectuais de esquerda lançavam livros e manifestos, conduziam seus discursos
sobre a revolução. Conhecida como a revolução dentro da revolução, uma
observação para que houvesse mudanças de comportamento entre os insatisfeitos
do atual governo. Era preciso lutar. Assim, Régis Debray, Cohn-Bendit, Alan
Geismar e Jacques Sauvageot se tornavam emblemáticos na contestação do
capitalismo a todo custo e a exploração dos trabalhadores.
Era
conhecida como a “Nova Esquerda” e pregava novas atitudes. Eles se diferenciavam
dos movimentos esquerdistas anteriores, e adotaram uma definição de ativismo
político mais ampla, comumente chamada de ativismo social. Temas como
sexualidade, gênero, liberdade, raça e igualdade ganharam destaque para estes
ativistas, não importando apenas o aspecto político-econômico nacional.
Nos
países latino-americanos, também ocorriam mudanças. Em Cuba caía Fulgencio
Batista, ante a guerrilha revolucionária de Fidel Castro. Este por sua vez implantava
no país um governo socialista, que nacionalizou fazendas privadas, propriedades
religiosas e propriedades estrangeiras. Na Venezuela, os “direitistas” traíram
os guerrilheiros, ampliando o embate entre os pobres e os ricos. Na Bolívia,
rangers treinados por instrutores norte-americanos lutaram contra os
revolucionários de Che Guevara, culminando em sua morte. No Chile, Eduardo Frei
Montalva, de orientação política cristã de direita, ganhava as eleições contra
Salvador Allende, que era socialista, utilizando intervenção publicitária da
CIA. Na antiga Tchecoslováquia o socialismo também sofria duras quedas, pela
dissolução dentro do Partido Comunista, aliás, dissoluções estas amplamente
espalhadas pelo mundo.
Esta
quebra dentro do PC se dava muitas vezes por divergências ideológicas dos seus
intelectuais fundadores. Uns de tendência mais pacifista, a exemplo do Chile de
Allende, outros mais combatentes como a URSS, Cuba e China. O que dificultava a
unidade global em torno do ideal marxista e leninista.
Agindo
assim, os comunistas enfraqueceram-se em seus países, dando lugar aos
capitalistas liberais, que com a ajuda do grande capital propagandista
arrebatavam cada vez mais simpatizantes ao seu sistema.
Aqueles
anos entre 1960 e 1970 era um prenúncio do que o mundo se tornaria o que é nos
dias atuais. Os partidos políticos cada vez mais desamparados em ideologias, as
pessoas mais informadas e independentes do Estado e o incessante caminhar
humano em busca de reformas sociais (decadência econômica das antigas potências
capitalistas, consciência ecológica, queda de ditaduras, etc.), que tragam mais
satisfação coletiva.
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