quarta-feira, 8 de agosto de 2012


Quando foi 68? : Os anseios sociais em um mundo conturbado
Por Antônio Júlio Rebelo Neto e Simony César

O mundo durante o pós-guerra era marcado por incertezas. Havia a corrida armamentista entre as potências mundiais EUA e URSS, o colapso econômico nos países do chamado “Eixo”, Alemanha, Japão e Itália, as cidades europeias destruídas, culturas territoriais alteradas, entre tantos outros eventos obscuros.
Tudo “coroado” por uma guerra de ocupação. Onde os combates militares formais apenas se deram no início e final do conflito, predominando neste intervalo a opressão dos invasores, com os civis constituindo-se em uma grande massa de oprimidos fisicamente e mentalmente. Estimam-se em 40 milhões de mortos civis.
De fato, as pessoas buscavam modelos a seguir, que levassem a uma condição de vida mais digna e mais humana. Tratados foram criados entre as nações, ligas foram formadas, países unidos em busca de paz.
Assim, as guerras legitimaram o objetivo de se alcançar um Estado liberal, que almejasse a justiça e a democracia.
Realizou-se em 1954 a Conferência de Genebra, que objetivava restaurar a paz na Indochina e Coreia, após a derrota francesa no Vietnã. Vale ressaltar que a França recebia apoio financeiro e militar estadunidense, enquanto soviéticos e chineses apoiavam os vietnamitas. Assim, temporariamente o Vietnã seria dividido em norte (socialista) e sul (anticomunista) até a próxima eleição que seria em 1956.
Contudo, os Estados Unidos não assinaram o acordo de Genebra, invadindo posteriormente o Vietnã do Sul, impondo um golpe de estado ao governo de Bao Dai, colocando em seu lugar, Ngo Dinh Diem, comprometido com os norte-americanos.
Diem implantou uma ditadura militar, proclamou a independência do Vietnã do Sul e cancelou as eleições previstas pelo Acordo de Genebra, porque havia a convicção de que ela daria a vitória a Ho Chi Minh, chefe da nação vietnamita do norte.
Isto demonstrava o nível ético ao qual os Estados Unidos estava disposto a adotar para conseguir vencer a Guerra Fria contra a URSS e, consequentemente, contra o comunismo, sistema abominado na América do Norte, mas que ganhava força popular em países nacionalistas que lutavam por sua independência.
O conflito no Vietnã foi catastrófico. Mais ainda para os norte americanos, que viram sua imagem ruir perante o mundo civilizado e pelos próprios cidadãos estadunidenses. Pois, o conflito foi amplamente divulgado pela mídia, onde imagens de horrores eram transmitidas pela televisão o que causava repulsa na população. Além do fato de que com a guerra, eis que surge uma forma de combate que mais tarde se espalharia pela América: a guerrilha.
Enquanto o mundo assistia espantado a derrocada norte-americana, na França há manifestações populares crescentes. Manifestos estudantis, reinvindicações do proletariado e insurgências civis marcam a sociedade francesa na década de 60.
A maioria dos insurretos eram adeptos de ideias esquerdistas, comunistas ou anarquistas. Lutavam para verem mudar os valores pertencentes a uma antiga e decadente burguesia, cujo resgate de força se deu pelo governo de De Gaulle.
O operariado na França fazia greves, contestava seus patrões e exigia melhores condições de trabalho. Armavam “barricadas”, enfrentavam a polícia, cuja força o governo utilizava nas chamadas “blitz”.
Os intelectuais de esquerda lançavam livros e manifestos, conduziam seus discursos sobre a revolução. Conhecida como a revolução dentro da revolução, uma observação para que houvesse mudanças de comportamento entre os insatisfeitos do atual governo. Era preciso lutar. Assim, Régis Debray, Cohn-Bendit, Alan Geismar e Jacques Sauvageot se tornavam emblemáticos na contestação do capitalismo a todo custo e a exploração dos trabalhadores.
Era conhecida como a “Nova Esquerda” e pregava novas atitudes. Eles se diferenciavam dos movimentos esquerdistas anteriores, e adotaram uma definição de ativismo político mais ampla, comumente chamada de ativismo social. Temas como sexualidade, gênero, liberdade, raça e igualdade ganharam destaque para estes ativistas, não importando apenas o aspecto político-econômico nacional.
Nos países latino-americanos, também ocorriam mudanças. Em Cuba caía Fulgencio Batista, ante a guerrilha revolucionária de Fidel Castro. Este por sua vez implantava no país um governo socialista, que nacionalizou fazendas privadas, propriedades religiosas e propriedades estrangeiras. Na Venezuela, os “direitistas” traíram os guerrilheiros, ampliando o embate entre os pobres e os ricos. Na Bolívia, rangers treinados por instrutores norte-americanos lutaram contra os revolucionários de Che Guevara, culminando em sua morte. No Chile, Eduardo Frei Montalva, de orientação política cristã de direita, ganhava as eleições contra Salvador Allende, que era socialista, utilizando intervenção publicitária da CIA. Na antiga Tchecoslováquia o socialismo também sofria duras quedas, pela dissolução dentro do Partido Comunista, aliás, dissoluções estas amplamente espalhadas pelo mundo.
Esta quebra dentro do PC se dava muitas vezes por divergências ideológicas dos seus intelectuais fundadores. Uns de tendência mais pacifista, a exemplo do Chile de Allende, outros mais combatentes como a URSS, Cuba e China. O que dificultava a unidade global em torno do ideal marxista e leninista.
Agindo assim, os comunistas enfraqueceram-se em seus países, dando lugar aos capitalistas liberais, que com a ajuda do grande capital propagandista arrebatavam cada vez mais simpatizantes ao seu sistema.
Aqueles anos entre 1960 e 1970 era um prenúncio do que o mundo se tornaria o que é nos dias atuais. Os partidos políticos cada vez mais desamparados em ideologias, as pessoas mais informadas e independentes do Estado e o incessante caminhar humano em busca de reformas sociais (decadência econômica das antigas potências capitalistas, consciência ecológica, queda de ditaduras, etc.), que tragam mais satisfação coletiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário