por Antônio Júlio Rebelo Neto e Simony César
O ano
de 1968, no Brasil, foi marcado pelo endurecimento da ditadura no país. Sob o
poder militar representado então pelo marechal Costa e Silva, a sociedade civil
brasileira padecia ante os disparates governamentais. Entre eles, o AI-5 (Ato
Institucional Número Cinco) garantia ao presidente da República Federativa do
Brasil poderes tamanhos tal qual o fechamento do Congresso Nacional, marcando
de vez o endurecimento do regime. De fato, o AI-5 institucionalizava a
repressão e tortura aos oposicionistas do governo militar.
Assim,
os partidos tidos como de “esquerda” eram os principais alvos dos militares.
Isso porque os militantes esquerdistas eram quem combatiam o atual do governo. Com isso, surgiam grupos organizados,
alinhados com a ideologia comunista, e que almejavam o fim da ditadura. Logo,
estes grupos ganharam força frente à sociedade civil, o proletariado, artistas
e os estudantes, todos, nesta época, ansiosos por mudanças no quadro político
nacional.
Neste contexto, a militância de esquerda
ganhava força nos grêmios estudantis, buscando na juventude a formação de
futuros combatentes. Os grêmios funcionavam como locais de reunião entre membros
partidários da oposição, como PC do B, PCB e PCBR, juntos, obviamente, dos
estudantes. Além dos partidos comunistas, havia ainda as organizações de cunho
revolucionário, muitas vezes originados por dissidentes partidários de
esquerda, como por exemplo, a Aliança Nacional Libertadora (ALN), a Vanguarda
Popular Revolucionária (VPR), o Movimento Comunista Revolucionário (MCR), a Vanguarda
Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), entre outros. Algumas destas
organizações de extrema esquerda possuíam a vantagem de contar entre os seus
membros com antigos soldados do regime, que deserdaram do Exército Brasileiro
para ir lutar ao lado dos comunistas.
Eram
utilizadas diversas formas de combate, desde práticas violentas como assaltos a
bancos, sequestros e atentados, até ações propagandistas como pichações,
panfletagem e veiculação de jornais. Em consequência da constante vigilância
ditatorial, as ações contrárias ao governo aconteciam de forma esporádica. Mais
ainda, a divulgação de ideias oposicionistas através dos meios impressos,
constantemente, se reduzia a jornais, cuja circulação predominava entre os
membros dos partidos esquerdistas.
Isto
porque, no Brasil da ditadura, o medo era um fator permanente na vida das
pessoas. Gente desaparecia no calar da noite, o silêncio rondava as ruas, e a
desconfiança marcava as relações sociais. Havia os infiltrados do governo, os
delatores do sistema, que obrigavam os indivíduos a medirem sempre suas
palavras. O controle social era caracterizado pela censura, havendo censores
nos teatros, na literatura e, obviamente, nos jornais. Versos musicais eram
excluídos ou adulterados, a mesma coisa para as falas de personagens em peças
teatrais. Matérias eram lidas antes de serem publicadas, havendo corte caso
assim desejasse os censores.
No
entanto, muitos jornais continuaram a publicar notícias que informassem ao seu
público a conjectura geral da Nação. A maioria deles eram jornais comunistas,
mimeografados, muitas vezes produzidos em pequenos cômodos, de modo a se
refugiar da perseguição dos ditadores. Alguns eram bem conhecidos, como
Opinião, O Pasquim e Movimento. Contribuíram assim para o boom do jornalismo alternativo da chamada imprensa nanica e/ou
combativa as pressões pelos censores dentro das redações, os jornais a serviço
do governo, e a condição a que eram submetidos os jornalistas, que ficavam
“atados”. Assim, estes jornais em tamanho de tabloides (variação do termo
“imprensa nanica”) podiam ser basicamente de dois tipos: alguns
predominantemente políticos e de outro lado, jornalistas cansados do discurso
ideológico. Em geral pedagógicos e dogmáticos, o primeiro tipo tinha raízes nos
ideais de valorização do nacional e do popular dos anos 50, ou no marxismo
vulgarizado nos meios estudantis nos anos 60. O segundo tipo se inspirava nos
movimentos de contracultura norte-americana, no orientalismo, anarquismo,
existencialismo, era contra o autoritarismo e a moral da burguesia e aderia às
drogas.
Poderia se classificar o período de circulação
dos principais jornais alternativos em quatro fases. A primeira foi quando o
objetivo era revolucionar o país. Conseguinte, surgiu a fase da resistência ao
poder, onde reformularam a linguagem e as críticas, quando aumentou sua
perseguição por parte da censura. No final dos anos 70, com a abertura
política, as redações dos jornais alternativos foram deixando a clandestinidade
e ganhando o espaço público. Na fase final os jornais se voltavam aos
movimentos populares de base.
Evidentemente,
a imprensa alternativa obteve papel importante quanto à circulação de
informações e ideias de natureza diversificadas, além de combater os desmandos
de um governo autoritário. Como disse Kucinski, “a imprensa alternativa dos
anos 70 era tudo isso ao mesmo tempo. Em contraste com a complacência da grande
imprensa para com a ditadura militar, os jornais alternativos faziam a crítica
sistemática do modelo econômico. Inclusive nos anos de seu aparente sucesso,
durante o milagre econômico - de 1968
a 1973 -, destoando assim do discurso triunfalista do
governo ecoado pela grande imprensa, construindo dessa forma todo um discurso
alternativo”. (1998, p. 179)
Referência
bibliográfica
KUCINSKI, Bernardo. A
síndrome da antena parabólica. SãoPaulo: Fundação Perceu Abramo, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário