segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Quando foi 68?: A Política Em Meio À Ditadura

por Antônio Júlio Rebelo Neto e Simony César


O ano de 1968, no Brasil, foi marcado pelo endurecimento da ditadura no país. Sob o poder militar representado então pelo marechal Costa e Silva, a sociedade civil brasileira padecia ante os disparates governamentais. Entre eles, o AI-5 (Ato Institucional Número Cinco) garantia ao presidente da República Federativa do Brasil poderes tamanhos tal qual o fechamento do Congresso Nacional, marcando de vez o endurecimento do regime. De fato, o AI-5 institucionalizava a repressão e tortura aos oposicionistas do governo militar.
Assim, os partidos tidos como de “esquerda” eram os principais alvos dos militares. Isso porque os militantes esquerdistas eram quem combatiam o atual do governo. Com isso, surgiam grupos organizados, alinhados com a ideologia comunista, e que almejavam o fim da ditadura. Logo, estes grupos ganharam força frente à sociedade civil, o proletariado, artistas e os estudantes, todos, nesta época, ansiosos por mudanças no quadro político nacional.
 Neste contexto, a militância de esquerda ganhava força nos grêmios estudantis, buscando na juventude a formação de futuros combatentes. Os grêmios funcionavam como locais de reunião entre membros partidários da oposição, como PC do B, PCB e PCBR, juntos, obviamente, dos estudantes. Além dos partidos comunistas, havia ainda as organizações de cunho revolucionário, muitas vezes originados por dissidentes partidários de esquerda, como por exemplo, a Aliança Nacional Libertadora (ALN), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Movimento Comunista Revolucionário (MCR), a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), entre outros. Algumas destas organizações de extrema esquerda possuíam a vantagem de contar entre os seus membros com antigos soldados do regime, que deserdaram do Exército Brasileiro para ir lutar ao lado dos comunistas.
Eram utilizadas diversas formas de combate, desde práticas violentas como assaltos a bancos, sequestros e atentados, até ações propagandistas como pichações, panfletagem e veiculação de jornais. Em consequência da constante vigilância ditatorial, as ações contrárias ao governo aconteciam de forma esporádica. Mais ainda, a divulgação de ideias oposicionistas através dos meios impressos, constantemente, se reduzia a jornais, cuja circulação predominava entre os membros dos partidos esquerdistas.
Isto porque, no Brasil da ditadura, o medo era um fator permanente na vida das pessoas. Gente desaparecia no calar da noite, o silêncio rondava as ruas, e a desconfiança marcava as relações sociais. Havia os infiltrados do governo, os delatores do sistema, que obrigavam os indivíduos a medirem sempre suas palavras. O controle social era caracterizado pela censura, havendo censores nos teatros, na literatura e, obviamente, nos jornais. Versos musicais eram excluídos ou adulterados, a mesma coisa para as falas de personagens em peças teatrais. Matérias eram lidas antes de serem publicadas, havendo corte caso assim desejasse os censores.
No entanto, muitos jornais continuaram a publicar notícias que informassem ao seu público a conjectura geral da Nação. A maioria deles eram jornais comunistas, mimeografados, muitas vezes produzidos em pequenos cômodos, de modo a se refugiar da perseguição dos ditadores. Alguns eram bem conhecidos, como Opinião, O Pasquim e Movimento. Contribuíram assim para o boom do jornalismo alternativo da chamada imprensa nanica e/ou combativa as pressões pelos censores dentro das redações, os jornais a serviço do governo, e a condição a que eram submetidos os jornalistas, que ficavam “atados”. Assim, estes jornais em tamanho de tabloides (variação do termo “imprensa nanica”) podiam ser basicamente de dois tipos: alguns predominantemente políticos e de outro lado, jornalistas cansados do discurso ideológico. Em geral pedagógicos e dogmáticos, o primeiro tipo tinha raízes nos ideais de valorização do nacional e do popular dos anos 50, ou no marxismo vulgarizado nos meios estudantis nos anos 60. O segundo tipo se inspirava nos movimentos de contracultura norte-americana, no orientalismo, anarquismo, existencialismo, era contra o autoritarismo e a moral da burguesia e aderia às drogas.
 Poderia se classificar o período de circulação dos principais jornais alternativos em quatro fases. A primeira foi quando o objetivo era revolucionar o país. Conseguinte, surgiu a fase da resistência ao poder, onde reformularam a linguagem e as críticas, quando aumentou sua perseguição por parte da censura. No final dos anos 70, com a abertura política, as redações dos jornais alternativos foram deixando a clandestinidade e ganhando o espaço público. Na fase final os jornais se voltavam aos movimentos populares de base.
Evidentemente, a imprensa alternativa obteve papel importante quanto à circulação de informações e ideias de natureza diversificadas, além de combater os desmandos de um governo autoritário. Como disse Kucinski, “a imprensa alternativa dos anos 70 era tudo isso ao mesmo tempo. Em contraste com a complacência da grande imprensa para com a ditadura militar, os jornais alternativos faziam a crítica sistemática do modelo econômico. Inclusive nos anos de seu aparente sucesso, durante o milagre econômico - de 1968 a 1973 -, destoando assim do discurso triunfalista do governo ecoado pela grande imprensa, construindo dessa forma todo um discurso alternativo”. (1998, p. 179)



Referência bibliográfica

KUCINSKI, Bernardo. A síndrome da antena parabólica. SãoPaulo: Fundação Perceu Abramo, 1998.

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