Por Clarissa Viana,
Kamilla Rogge e
Márlon Diego Oliveira.
Márlon Diego Oliveira.
Discentes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco.
Em seu livro Sobre Ética e
Psicanálise, a psicanalista Maria Rita Kehl aborda as questões éticas que
permeiam a psicanálise nos tempos atuais: o pensar sobre si e sobre a relação
com o Outro na chamada “cultura do individualismo”, e como essa reflexão é
afetada pelos códigos que tem ditado o comportamento da sociedade ao longo dos
anos.
Maria Rita Kehl |
Maria Rita utiliza a psicanálise como base indispensável para explicar o
comportamento do homem moderno e a sociedade do consumo, e discorre sobre a
ética necessária para se meditar a respeito dos valores que contradizem
filosofias que ditam a forma de se conviver em sociedade há milhares de anos
através de discursos transmitidos de geração em geração, como por exemplo, as formações
da cultura de origem mítica – mitologia, religião e tradição.
Mas como podemos discutir a ética de valores que não são declarados
facilmente, como a violência, o prazer narcisista, o acúmulo de dinheiro, a
exclusão do outro?
A ética trata da questão da convivência, e ao levarmos isso em
consideração, o individualismo exacerbado da sociedade atual seria considerado
antiético. Segundo alguns estudos expostos por Freud e Lacan, por exemplo, o
primeiro sentimento despertado pela entrada de um indivíduo semelhante em nossa
vida é o ódio, pelo fato de ele ser semelhante
na diferença.
“Por ser ao mesmo tempo tão
semelhante e tão diferente, o “próximo” vem sempre nos deslocar de nossa
‘identidade’ (uma ilusão narcisista), pois traz inevitavelmente a questão: se
eu sou este e ele se assemelha tanto a mim, mas não é eu, quem é ele? Diante
dele, quem sou eu?”. (KEHL, 2002, p.20)
A convivência com o outro aparece nos dias de hoje, não como solução, mas
como um problema. A ética do homem moderno não se orienta na direção do
convívio com o outro, pois na verdade ela tornou-se uma ética da não convivência.
Podemos notar que nos tempos modernos os questionamentos sobre o que é
certo e o que é errado deixaram de ser ditados por autoridades míticas e
passaram a ser um questionamento pessoal. Mas o legado de liberdade trouxe
também o desamparo. O sujeito moderno agora é um sujeito dividido entre ter de
gozar e ter de conviver.
Portanto, o fato de não declarar alguns valores apesar de senti-los põe o
indivíduo em desacordo com seus próprios desejos. Ele tem de ser juiz de si e
também levar em conta a existência do outro. O fato de ter de governar a si
próprio pode causar ao sujeito moderno a sensação de desamparo e descontrole. A
psicanálise então surge como um norte, pois o ser humano sente a necessidade de
que sua vida faça algum sentido. E não passa de uma grande ilusão achar que a
criação de sentido para a vida é um ato individual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KEHL, Maria Rita. Sobre ética e psicanálise. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.
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