terça-feira, 7 de agosto de 2012

Sobre ética e psicanálise: a relação com o Outro.


Por Clarissa Viana, Kamilla Rogge e
Márlon Diego Oliveira.
Discentes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco.
               


Em seu livro Sobre Ética e Psicanálise, a psicanalista Maria Rita Kehl aborda as questões éticas que permeiam a psicanálise nos tempos atuais: o pensar sobre si e sobre a relação com o Outro na chamada “cultura do individualismo”, e como essa reflexão é afetada pelos códigos que tem ditado o comportamento da sociedade ao longo dos anos.

Maria Rita Kehl
Maria Rita utiliza a psicanálise como base indispensável para explicar o comportamento do homem moderno e a sociedade do consumo, e discorre sobre a ética necessária para se meditar a respeito dos valores que contradizem filosofias que ditam a forma de se conviver em sociedade há milhares de anos através de discursos transmitidos de geração em geração, como por exemplo, as formações da cultura de origem mítica – mitologia, religião e tradição.

Mas como podemos discutir a ética de valores que não são declarados facilmente, como a violência, o prazer narcisista, o acúmulo de dinheiro, a exclusão do outro?

A ética trata da questão da convivência, e ao levarmos isso em consideração, o individualismo exacerbado da sociedade atual seria considerado antiético. Segundo alguns estudos expostos por Freud e Lacan, por exemplo, o primeiro sentimento despertado pela entrada de um indivíduo semelhante em nossa vida é o ódio, pelo fato de ele ser semelhante na diferença.

“Por ser ao mesmo tempo tão semelhante e tão diferente, o “próximo” vem sempre nos deslocar de nossa ‘identidade’ (uma ilusão narcisista), pois traz inevitavelmente a questão: se eu sou este e ele se assemelha tanto a mim, mas não é eu, quem é ele? Diante dele, quem sou eu?”. (KEHL, 2002, p.20)

A convivência com o outro aparece nos dias de hoje, não como solução, mas como um problema. A ética do homem moderno não se orienta na direção do convívio com o outro, pois na verdade ela tornou-se uma ética da não convivência.

Podemos notar que nos tempos modernos os questionamentos sobre o que é certo e o que é errado deixaram de ser ditados por autoridades míticas e passaram a ser um questionamento pessoal. Mas o legado de liberdade trouxe também o desamparo. O sujeito moderno agora é um sujeito dividido entre ter de gozar e ter de conviver.

Portanto, o fato de não declarar alguns valores apesar de senti-los põe o indivíduo em desacordo com seus próprios desejos. Ele tem de ser juiz de si e também levar em conta a existência do outro. O fato de ter de governar a si próprio pode causar ao sujeito moderno a sensação de desamparo e descontrole. A psicanálise então surge como um norte, pois o ser humano sente a necessidade de que sua vida faça algum sentido. E não passa de uma grande ilusão achar que a criação de sentido para a vida é um ato individual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KEHL, Maria Rita. Sobre ética e psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 

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